às palavras que não existem no meu vocabulário.

"a memória é como a areia que escorre por meus dedos"

(as aspas, porque algo assim foi dito por agnès varda; a frase, como me lembro.)


e eu junto num baldinho a areia

e carrego sem desassossego para montar minha praia

e faço uma poça, de onde vai surgir meu mar

e faço pegadas imitando banhistas que não virão

e meu costume de bain é branco, numa improvisação da paz

e eu tenho 52 anos ainda não completados e já passei pela vida de algumas vassouras

e foram necessárias 18 caminhadas - ida e volta - para minha praia particular ficar pronta

e vou voltar para casa porque lembrei que a minha flor tem botão novo

e quero registrá-lo com minha máquina registradora

cadela permanecerá


a zoe está bem cansada
ela já tá bem perto da morte
a gente sente isso, sente muito
e vai sentir falta
até agora, são praticamente 14 anos
faltam só 2 meses pro aniversário
ela ainda pula no meu colo
mas já não ouve nem enxerga direito
tem se sentido muito insegura
quer sempre estar perto de alguém
já perdeu sua independência
ainda faz a gente rir
ainda emociona a gente
a zoe reuniu a família
quantas vezes enfiou minhas meias na boca em troca de miolo de pão
tantas foram as vezes em que desenrolou o rolo de papel higiênico
e inúmeras foram as vezes em que pediu mamão pela manhã
ela é incrível, tão incrível que superestimo os humanos quando digo que ela nem parece cachorro
zoe é vida. em grego. zoia é como as crianças pronunciam.
ela me ensinou tanta coisa que nem sei dizer.
ensinou que não é só coelho que come cenoura
e que cão bravo pode ter cara de poodle.
pra defender basta amar.
e eu amo muito ela.
e minha mãe também.
espero que, quando ela for, vá na boa.

dormindo =)

chovo e ando.