quinta-feira, 24 de setembro de 2009

buraco

do que não ousei falar
tampouco me permiti sentir

são dois buracos agora
imaginem bocas com dentes encavalados
e sisos e aftas e a língua queimada

duas bocas que de tão negras parecem ter se apropriado do carvão
para se tornarem mais grotescas

e elas esfarelam e se recompõem
e se materializam, e isso acontece num fluxo perpendicular à cavidade arroxeada da qual isso, boca enquanto buraco, ou buraco enquanto boca, se permite ser e deixar de ser.

(preciso falar desse buraco

é necessário usá-lo como orifício por onde possam atravessar as tais coisas, como uma faringe,
para que ele deixe de ser um buraco, que me pareça mais com um funil. deixando de ser, existo. se me confundo com ele, se me percebo no seu fundo, me rasgo. num estado constante de quebrantamento. )




Paula

Um comentário:

Fernando Al-Bukowski disse...

nossa! adorei isso.
suas palavras continuam me seduzindo... mas você sabe, das minhas amigas você é a mais Clarice, a mais pedaço de estrela, a mais mais.

e quanto a você? esse desencontro maluco. parece que de tempos em tempos temos que dar um tempo e ficarmos mudos. mas me diga, o que diz o seu silêncio?

beijo.