quarta-feira, 11 de agosto de 2010

passo

. esse lugar, que fica bem perto de onde eu moro, vive cheio de uma gente muito estranha e muito parecida . parece que não sabem respirar e isso lhes confere uma aparência atordoada e banalmente moribunda . seus olhos são vazios e seus pés distráidos do chão que pisam . os braços largados, a cabeça desconectada do resto do corpo . na verdade todas as partes desses corpos ambulantes não parecem ter qualquer ligação . e são humanos, como eu, seja lá qual for a conotação que se possa ou deva dar a essa palavra atualmente . a boca dessa gente parece de madeira usada naquele tipo de bonecos geralmente utilizados por ventríloquos . e suas roupas, feitas de um material bem específico e previamente planejado para abafar os póros e o tato . certa vez, vi todos comendo espuma e cobre . noutra vez pude perceber que enquanto salivavam pelo ouro que reluzia numas telas pequenas e iluminadas, despejavam pedras em quem se pusesse entre dominador e dominado . num dia de sol forte e sem vento pedi uma informação ordinária a um deles (porque ouvi dizer que conhecem bem a cidade) e pude ouvir, sem entender bem se era isso mesmo, um som metálico e ritmado vindo da altura do peito daquele humano . saí de perto rápido e confusa . senti medo de pirar de vez ou de percerber que aquele som assustador podia ser do meu peito também .

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