quinta-feira, 28 de outubro de 2010

em http://aboutthepassion.blogspot.com/


Azul celeste

Sete palavras:

Viraram mar

Estes meus sentimentos de cinzas

Mais abaixo, uma dedicatória:

p/meu pai

Foi assim que eu conheci o blog de uma colega, o http://andoando.blogspot.com/. Por causa dela, ou melhor, por causa dos vocábulos certeiros escolhidos pela Paula no haicai acima, eu me emocionei, e voltei a pensar na morte – aliás, um tema recorrente para mim.

Informações básicas: o haicai é um poema de origem japonesa, que chegou ao Brasil no começo do século 20. Peguei emprestado da internet algumas características/regras dele:

1 – Contém alguma referência à natureza – diferente da natureza humana.

2 – Faz referência a um evento particular – ou seja, não é uma generalização.

3 – Apresenta tal evento como "acontecendo agora", e não no passado.

Bingo. Um haicai. Um ótimo. Quando li o poema, não sabia que o pai dela havia falecido. Mas desconfiei. Depois de contar que gostei muito da obra que ela criou, Paula me mandou um recado pelo Orkut, devidamente reproduzido aqui. “É pro meu pai, que deve estar tomando uns gorós com Leminski, orgulhoso então”.

Paulo Leminski era escritor, poeta e tradutor. Escreveu os haicais mais bonitos que eu já li. Morreu em 1989.

Paula é uma colega um pouco distante – nos conhecemos por amigos em comum. Escreveu um dos haicais mais bonitos que eu já li. Está "Vivinha da Silva"!

Eu escrevi que este texto fala sobre a morte, certo? Errado. Esta postagem versa sobre algo maior: o poder de transformação.

A vida que se viveu, as boas lembranças, a ligação emocional com um ente querido... Tudo isso não impede que a morte faça o seu trabalho no momento em que tem que ser feito. Mas depois, quando a vida volta à primeira página, acredito que é aí que pinta a grande diferença.

A dor, imagino, deve continuar. Mas aquele “sentimento de cinza”, tão bem descrito pela Paula, vira mar. Foi-se a morte. Minguou. Morreu.

Agora, só um oceano de amor. Sempre em movimento, grandioso, vivo.

Azul celeste.

Dedicado a todos que, apesar da morte, não abrem mão da vida.

Por Hugo Oliveira


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