quarta-feira, 6 de abril de 2011

meu pai morreu ontem, e semana passada, e há quase três anos.
ele era alto, tinha a pele corada, usava barba, e o cabelo era fino. 
suas mãos eram lindas, de dedos alongados. sorria para poucos.
era louco por cerveja, não apreciava carne de frango e amava o fluminense.
me amava. e costumava dizer. eu tinha 23 anos, minha mãe sabia como era aquela dor.
meus dentes adormeceram, e desenvolvi a mania de roçá-los uns nos outros, a isso não dou o nome de bruxismo. volta e meia, sonho com ele. quase sempre, deixo de lembrar que, fisicamente, passou a não existir.

pai, eu gosto de cerveja, mas bebo duas vezes ao ano. engordei muito nos últimos meses, mas é felicidade, tô descomprometida com padrões. namoro um tricolor, e - pasme - agora, sei nomes de jogadores de futebol. ainda não fui aos eua, tomara que ferlinghetti espere por mim. meu dinheiro quase nunca dá, mas sempre sobra. a zoe continua companheira, e ainda é fissurada por mamão e pão. adotamos a filó, que come violetas, cadeira e acerola. a vovó tá bem, se mantém lúcida e afetuosa. vou visitá-la na semana santa. 


um beijo.




5 comentários:

Arides e seus causos disse...

isso que é blog

Unknown disse...

Lindo.

TATP disse...

Queria ter a manha de escrever desse jeito... Tão simples e tão emocionante.

Parabéns, Paulinha. Lindo texto.

TATP disse...

Ah, é o Hugo!

Aneyde Couto disse...

Você vive me enchendo os verdes escuros de lágrimas, musinha... Nem sei o que escrever mais.

Um beijo também.